Com direção de Ana Regis (“Peixes”) e dramaturgia de Thomaz Canizza (“Fred & Laura”), a peça acompanha a intimidade de um ex-casal, no final dos anos 80,
até que um deles decide ir embora.
No palco, a verborragia do texto de Abreu expressa a angústia pelo envelhecimento dos ideais políticos, e traz referências de um Brasil pós-ditadura, sem heróis, embalado por Angela Ro Ro e Cazuza.
A partir de 16.05 de maio, sexta-feira, a plataforma Ato Junto está de volta a BH com o espetáculo “Os Sobreviventes“, em curta temporada no Teatro Raul Belém Machado. Baseada no conto homônimo do jornalista, escritor e dramaturgo gaúcho Caio Fernando Abreu (prêmio Jabuti) – reconhecido por literatura marcada pela temática LGBT -, a peça traz para a cena a relação de intimidade entre duas figuras decadentes, no final dos anos 80. Na trama, “Ele” (Thomaz Cannizza) e “Ela” (Luciana Veloso) já foram um casal no passado mas, por algum motivo que será revelado adiante, seguem juntos em uma relação atípica, até que um deles decide se despedir. A direção é da atriz Ana Regis (Melhor Atriz Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Peixes”) e a dramaturgia e assistência de direção são de Thomaz Cannizza (Melhor Ator Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Fred & Laura”). A peça será apresentada nos dias 16, 17 18 de maio, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro do espaço Espaço Yoshifumi Yagi. Os ingressos custam R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada) e estão disponíveis no Sympla. A classificação indicativa é 14 anos e o espetáculo possui duração de 80 minutos.
Dentre as medidas de acessibilidade, na sexta, dia 16/05, a sessão conta com audiodescrição simultânea, e no sábado, dia 17.05, com tradução em Libras. Ainda no sábado, antes do espetáculo, será oferecida, das 13h às 18h, no palco do Raul Belém Machado, um oficina gratuita de capacitação para elaboração de projetos culturais em editais da SMC de Belo Horizonte, voltada para para artistas e empreendedores. A oficina será ministrada por Ana Régis e Thomaz Cannizza. O período de inscrições é de 21 a 30/04. Mais informações sobre a oficina e a temporada pelo Instagram @atojunto.
Também estará disponível no período da temporada, a obra digital “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”, baseada no conto “Os Sobreviventes”. Com adaptação para o formato ‘teatro digital’, o experimento criado pela Ato Junto ficou em cartaz na pandemia, e agora, volta a ser disponibilizado ao público, com legendas e audiodescrição no Youtube da companhia. Este projeto tem apoio do Espaço Yoshifumi Yagi, realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
O processo
“‘Os Sobreviventes’ é um texto que fala sobre essa relação paralela do amadurecimento como indivíduo e sujeito histórico, ao longo da vida. Levanta temas sobre a angústia do envelhecimento dos ideais políticos, mas também sobre a maturação do desejo individual, e como o político e o pessoal se retroalimentam. Caio escreve, nesse momento de abertura política do país, do fim do sonho revolucionário dos 70 e do desbunde dos 80, da ressignificação do amor e sexualidade numa sociedade conservadora, de Cazuza, da ausência de ideologias e da quebra de expectativa para brasileiros que esperavam a utopia após tantos anos de repressão“, comenta o ator e dramaturgo paulistano, idealizador da plataforma Ato Junto, Thomaz Cannizza.
Era 2018, ano de eleições federais no Brasil, em que o debate político estava aquecido no país, quando Cannizza decide montar o conto de Caio Fernando Abreu. “Apesar de escrito em 1982, a obra comunica uma espécie de sentimento que também estava muito latente no Brasil, uma espécie de desilusão e cansaço com a percepção do quanto a história é cíclica e como regimes opressivos vêm, vão e estão sempre ali na iminência. A arte como a do Caio Fernando, que é sensível, transcende o tempo e vai abraçando a universalidade que existe. Há obras que envelhecem bem e as que envelhecem mal. O conto do Caio só rejuvenesce. Por essa atualidade, achei que o teatro poderia ser um lugar frutífero para trazer as palavras do Caio”, comenta.
No ano seguinte, Thomaz convida a atriz Luciana Veloso (Melhor Atriz pelo Prêmio Cenym 2020, por “A Obscena Senhora H”) para uma residência de seis meses, na Funarte. Lá experimentam diversas possibilidades cênicas para o conto de Abreu. “Reunimos um material dramatúrgico rico e chamamos Ana Regis para assistir a um dos ensaios. Ela acabou assumindo a direção”, lembra Thomaz.
Com a chegada da pandemia, em 2020, os artistas escolhem não seguir, naquele momento, com o trabalho, e montaram o experimento digital “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”, também inspirado no conto Os Sobreviventes. “Uma pesquisa que Ana (diretora) trouxe muito do cinema, a ideia de um ‘extra campo’. Na época, investigamos o que poderia ser a relação entre os personagens antes do conto do Caio. Exploramos essa façanha nos moldes do isolamento social: dois personagens debaixo do mesmo teto, mas cada ator em sua casa”, conta Cannizza.
A cena
2025. De volta aos palcos, a dramaturgia é reescrita e adaptada para o encontro com o público, no CCBB. “Daqui a pouco, tudo será revirado”, contextualiza Cannizza logo na primeira rubrica do texto. O ator e dramaturgo sinaliza para um espaço cênico que passa a ser um depósito de toda quinquilharia da vida dos personagens. “Nada sai, só acumula, se amontoa, se coleciona. E fica cada vez mais difícil trafegar, encontrar as coisas, se encontrar, sair dali”, acrescenta.
Em ‘Os Sobreviventes’ a marca do trabalho está na essência do teatro: “bons atores e um bom texto, com diálogos dinâmicos, cheios de entrelinhas”, ressalta a diretora Ana Regis. Vinda de uma trajetória no teatro e no audiovisual, a artista conta que a encenação traz tom naturalista. O cenário e objetos assinados por Bruna Cosfer e Marina Góes, e os figurinos propostos por Bárbara Batitucci, combinados à iluminação de Gabriel Corrêa, compõem duas grandes atmosferas principais no espetáculo: os anos 80 e o plano da memória (flashbacks dos personagens).
“O espectador em nenhum momento vai ser levado pelo encantamento de grandes figurinos e cenários, mas pela verborragia e movimento das palavras. Além disso, a parafernália cênica está exposta. Não há coxias: os atores trocam de roupas em cena. São vestes cotidianas, uma ou outra mais datadas como a calça alta, as listras, o camisão ou o maiô. Estamos optando por explorar esse universo que não seja simplesmente de época, mas de algo que perdure no tempo”, contextualiza Ana Regis.
“A seleção de músicas, assinada por Thomaz Cannizza, faz referência a sucessos que marcaram os anos 80, mas não só. “Funk, movimento Dark, New Wave, muitas tribos foram aparecendo na época. Optamos por trilhas de décadas anteriores que poderiam não só embalar, mas também explicar os universos desses personagens: Mutantes, Dolores Duran – sons marcantes na melodia, no ritmo, mas também no discurso. Toda manifestação artística é registro de sua época. Essas canções ainda são ouvidas, não só porque grudam feito chiclete, mas por falarem de algo pungente, que permanece no tempo, tão vivo, assim como a obra de Caio”, diz.
Oficina de Elaboração de Projetos Culturais
A Oficina gratuita de capacitação para inscrição de projetos culturais em editais da SMC de Belo Horizonte, no Raul Belém Machado, é voltada para artistas e empreendedores, maiores de 18 anos, que têm como objetivo empreender através da inscrição de projetos em editais de cultura.
Os integrantes do projeto (direção e atores) compartilham a experiência da aprovação do projeto, da trajetória percorrida até sua aprovação, além da leitura/interpretação textual dos principais editais da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte (SMC). Num bate-papo descontraído, os ministrantes Thomaz Cannizza (ator e dramaturgo), Ana Régis (diretora) e Luciana Veloso (atriz) propõem exercícios práticos de elaboração de um projeto (real ou simulado), permitindo aos participantes experimentarem as várias etapas do processo: descrição da proposta, elaboração da planilha de custos, divulgação, entre outras etapas. Vagas disponíveis: 30.
SERVIÇO
ESTREIA: ESPETÁCULO “OS SOBREVIVENTES” NO CCBB BH
Baseado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu
Temporada do espetáculo com exibição de “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”
No Youtube da Ato Junto, durante toda a temporada do espetáculo
16, 17 e 18.05
sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Espaço Cênico Yoshifumi Yagi – Teatro Raul Belém Machado (Rua Leonil Prata, sn – Alípio de Melo)
Ingressos Symplaa R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada) pelo Sympla ou na bilheteria do teatro.
Classificação indicativa: 14 anos | duração: 80 min.
Oficina de Elaboração de Projeto Cultural (gratuita!)
17.05, sábado, 13h às 18h
Espaço Cênico Yoshifumi Yagi – Teatro Raul Belém Machado (Rua Leonil Prata, sn – Alípio de Melo)
Inscrições de 21 a 30.04 no Instagram @atojunto
Acessibilidade
Sessão 16.05, sexta, com audiodescrição simultânea
Sessão 17.05, sábado, com tradução em Libras
+Info.: @atojunto