Motorista de aplicativo cancela corrida ao ver passageira cadeirante de longe e reacende debate sobre capacitismo

Passageira relata que o motorista a viu do outro lado da rua e cancelou a corrida sem qualquer abordagem ou justificativa. A situação levanta questionamentos sobre empatia, inclusão e direitos de pessoas com deficiência.
Foto: Imagem ilustrativa

Na noite da última quarta-feira, dia 6 de agosto, em Belo Horizonte, uma passageira cadeirante teve sua corrida cancelada por um motorista de aplicativo após ser observada de longe. O motorista parou do outro lado da rua, a viu e, sem sequer se aproximar ou estabelecer contato, cancelou a corrida. O episódio, que pode parecer comum para algumas pessoas, reacende discussões sobre capacitismo e o papel das plataformas de mobilidade urbana na promoção da acessibilidade.

Bruna Buzette Borges, jornalista e cadeirante, estava acompanhada de um colega de trabalho quando solicitou uma corrida pelo aplicativo da Uber. Minutos depois, o carro estacionou do outro lado da rua. Assim que o motorista avistou a passageira, permaneceu no local por alguns segundos, cancelou a corrida e foi embora sem dizer nada. “Eu não tive a oportunidade de me identificar e muito nemos fui abordada. Ele me viu à distância, viu a cadeira e cancelou. Fiquei parada na calçada com meu colega, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. E olha que já eram 22 horas. E se eu estivesse sozinha?”, indaga a jornalista.

Este tipo de comportamento, ainda que não verbalizado, reforça o capacitismo. O termo define atitudes discriminatórias contra pessoas com quaisquer tipo de deficiência. Mesmo sem contato direto, a recusa implícita de prestar o serviço transmite uma mensagem de exclusão. “O que dói não é só o cancelamento, mas o que ele simboliza. Será que a minha presença, minha cadeira de rodas, ainda causam recusa em pleno 2025? É triste perceber que sim”, desabafa Bruna aos prantos.

 A RESPONSABILIDADE DAS PLATAFORMAS

Para muitos brasileiros com deficiência, os serviços de transporte por aplicativo representam mais independência. No entanto, episódios como este expõem falhas no treinamento e na fiscalização de condutas por parte das empresas.

A Uber, por exemplo, afirma ter políticas de inclusão e acessibilidade. No entanto, casos como esse evidenciam que a prática ainda está longe do ideal. “Não basta ter diretrizes bonitas nos sites. É preciso agir diante de situações discriminatórias como essa”, completa Bruna.

Já a 99 informa que a plataforma também proíbe cancelamentos por capacitismo e afirma que, nestes casos, tomará as medidas legais cabíveis. Além disso, explica que as opções Táxi Top ou 99Comfort, mais espaçosas e confortáveis, podem ser mais adequadas para passageiros com mobilidade reduzida. O Guia da Comunidade 99 reforça que discriminar ou cancelar corridas por deficiência não é permitido. “Porém, alguns motoristas não trabalham de acorco com o guia ou sequer sabem de sua existência. O que nos prejudica e nos humilha”, pondera a jornalista.

 LEGISLAÇÃO EXISTE E PRECISA SER RESPEITADA

De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), negar ou dificultar o acesso de pessoas com deficiência a serviços é ilegal. A recusa em realizar uma corrida, quando motivada por preconceito, pode ser enquadrada como crime, mesmo quando não verbalizada diretamente.

Mais do que indignação, Bruna quer transformar o episódio em conscientização. “Não quero privilégios. Quero apenas poder ir e vir com segurança, como qualquer outra pessoa. A minha deficiência não deveria ser motivo para recusa. Nunca!”, diz ela.

A situação foi relatada ao aplicativo da Uber. Bruna também planeja utilizar o caso em ações informativas no portal Falei, Tô Leve!, ampliando o debate sobre acessibilidade e respeito no cotidiano.

 

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  1. Tenho um enteado cadeirante e me solidarizo com a Bruna! Situações como esta são inaceitáveis e ações devem ser tomadas imediatamente para coibir o capacitismo!!!!

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