A desigualdade social no Brasil é histórica e uma velha conhecida de estudiosos e políticos. Mas ela pode ser ainda maior do que se calculava até então, segundo o “Mapa da Riqueza”, estudo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social) nesta semana. Só em Minas Gerais, a renda média da população vai de R$ 62, no município na última posição do ranking, até R$ 8.897, no mais rico.
A pesquisa considera a declaração do Imposto de Renda para chegar até o rendimento dos mais ricos, que dificilmente é apurado por outros levantamentos, que perguntam a renda diretamente à população. Ela calcula o principal indicador de desigualdade social utilizado no mundo, o índice de Gini. Quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. O índice habitualmente considerado, calculado pela Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é 0,6013. Já pelo cálculo da FGV, que inclui a renda declarada pelos mais ricos, ele sobe para 0,7068, considerando dados de 2020.
“É como se fosse um salto triplo de desigualdade”, pontua o economista Marcelo Neri, um dos autores da pesquisa. Considera-se que cada 0,03 pontos de diferença no índice reflete uma grande variação da desigualdade. O pesquisador reforça que a pandemia aprofundou a diferença entre 2019 e 2020. “Os mais pobres tiveram a renda preservada, com crescimento de 0,2% devido ao auxílio emergencial. Os mais ricos perderam 1,5%. Mas a renda do meio da distribuição, a da classe média, caiu quase três vezes mais que isso, 4,2%. Isso levou a um aumento da desigualdade”.
A diferença de renda média da população de cada Estado é marcante. A maior está no Distrito Federal, de R$ 3.148. Já a pior está no Maranhão, de R$ 409. Minas Gerais aparece em nono lugar do ranking de 27 posições, com uma renda média de R$ 1.153, abaixo da média nacional de R$ 1.310. No próprio Estado, confira quais são as dez maiores e as cinco menores rendas médias da população:
Cidades com as maiores rendas médias em Minas
Nova Lima: R$ 8.897
Belo Horizonte: R$ 2.925
Itaúna: R$ 2.581
Brumadinho: R$ 2.087
Lagoa Santa: R$ 2.022
Uberlândia: R$ 1.820
Juiz de Fora: R$ 1.779
Araxá: R$ 1.689
Poços de Caldas: R$ 1.633
Uberaba: R$ 1.630
Cidades com as piores rendas médias em Minas
Verdelândia: R$ 62
São João do Pacuí: R$ 78
Monte Formoso: R$ 81
Cônego Marinho: R$ 87
Matias Cardoso: R$ 87
Fruta de Leite: R$ 88
Pedras de Maria da Cruz: R$ 89
Pintópolis: R$ 89
Mamonas: R$ 89
Santo Antônio do Retiro: R$ 90
O ranking completo, com informações de todos os 853 municípios mineiros, está disponível no site do Mapa da Riqueza, do FGV Social Os dados também consideram qual é a renda média de quem declara o Imposto de Renda e o patrimônio líquido da população. Em Belo Horizonte, por exemplo, a renda média apenas dos declarantes sobe para R$ 11.341. A maior renda de declarantes do Estado também é de Nova Lima, de R$ 27.017. No Brasil, ela só perde para a dos declarantes da região administrativa do DF Lago Sul, em que chega a R$ 39.535.
O economista Marcelo Neri destaca que os resultados são uma ferramenta para delinear decisões governamentais. “Os dados ajudam no desenho de políticas públicas, como a reforma do Imposto de Renda e o imposto sobre patrimônio, que parecem estar na agenda”, diz. Hoje, pessoas que ganham um salário mínimo e meio pagam Imposto de Renda, enquanto fortunas advindas de lucros e dividendos de grandes empresas passam à margem dele.
Fonte: O Tempo