Uma a cada quatro empresas brasileiras não sobrevive ao primeiro ano; especialista da Rico explica como custos, margem e ponto de equilíbrio podem fazer a diferença
Na icônica novela Vale Tudo, Odete Roitman surpreende Raquel ao anunciar o fechamento da empresa Paladar, após adquirir 65% das ações da sociedade da irmã Celina. Fora das telas, essa situação não é tão distante da realidade de muitos empreendedores brasileiros: uma a cada quatro empresas que geram emprego no país não sobrevive até o primeiro ano, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O relatório Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo mostrou que apenas 76,2% das empresas empregadoras nascidas em 2017 sobreviveram até 2018. Quando se expande a análise até 2022, a taxa cai para 37,3%. Em números absolutos, foram registradas 210,7 mil “mortes” de empresas em 2020 — encerramento de atividades ou interrupção por mais de 24 meses.
Como manter um negócio saudável: custos, margem e ponto de equilíbrio
Para reduzir riscos e aumentar a sustentabilidade do negócio, a educadora financeira da Rico, Thaisa Durso, explica que entender a estrutura de custos é essencial. “É como fazer bolos: quanto mais encomendas, mais farinha, ovos e outros ingredientes serão necessários. Negócios com predominância de custos variáveis tendem a ser mais flexíveis, enquanto empreendimentos com custos fixos elevados têm mais dificuldade de ajustar rapidamente a produção sem elevar gastos.”
Além de mapear custos, a margem de lucro deve ser calculada. Thaisa reforça: “Se assar um bolo custa R$10 em ingredientes e o preço de venda é R$40, a margem é R$30 — o ganho extra que torna o esforço válido.” Com a margem definida, o empreendedor consegue também estabelecer o ponto de equilíbrio, ou seja, quantas unidades precisam ser vendidas para cobrir todas as despesas. “Saber o ponto de equilíbrio funciona como um painel de controle: indica se o negócio está gerando lucro ou operando no vermelho.”
“Compreender a diferença entre custos fixos e variáveis, calcular a margem de lucro e saber o ponto de equilíbrio é essencial para evitar prejuízos e garantir que cada venda contribua para o crescimento da empresa”, explica Thaisa Durso.
Outro ponto fundamental é separar as finanças pessoais das empresariais. Segundo Thaisa, “usar a mesma conta para despesas pessoais e da empresa dificulta saber se o negócio está dando lucro ou se o que foi gasto veio do próprio salário.” Abrir uma conta exclusiva para o negócio, definir pró-labore fixo e registrar todas as vendas e gastos são passos essenciais para garantir clareza e organizar o fluxo de caixa.
Thaisa ainda compartilha dicas práticas para manter o equilíbrio financeiro:
- Contas separadas: Mantenha uma conta para o negócio e outra para despesas pessoais. Isso simplifica a gestão financeira, evita confusões e permite acompanhar com clareza o fluxo de caixa de cada lado.
- Pró-labore fixo: Defina uma remuneração mensal fixa para você, independentemente do lucro da empresa. Assim, o planejamento financeiro pessoal não depende do resultado do negócio, garantindo previsibilidade e segurança.
- Registro rigoroso: Anote todas as entradas e saídas financeiras do negócio. Um controle detalhado ajuda a identificar desperdícios, entender para onde o dinheiro vai e tomar decisões mais assertivas.
- Ferramentas de gestão: Utilize aplicativos ou softwares de gestão financeira. Eles facilitam o registro das movimentações, permitem análises rápidas e economizam tempo precioso do empreendedor.
- Reservas de emergência: Crie fundos separados para imprevistos pessoais e empresariais. Eles protegem o negócio e sua vida pessoal de situações inesperadas, como atrasos de clientes, falhas de fornecedores ou problemas domésticos.
- Diversificação de investimentos: Invista tanto na empresa quanto fora dela. Equipamentos, expansão do negócio e aplicações financeiras ajudam a gerar retorno e garantem crescimento sustentável.
- Cartão corporativo: Use um cartão exclusivo para despesas do negócio. Isso ajuda a separar claramente gastos empresariais de pessoais e facilita o controle e acompanhamento das finanças.
- Planejamento orçamentário: Estabeleça previsões de receitas e despesas com antecedência. Um orçamento bem planejado aumenta a clareza financeira e ajuda a evitar surpresas, garantindo que o negócio funcione de forma saudável.
Seguindo essas orientações, o empreendedor aumenta as chances de longevidade e saúde financeira da empresa, evitando que seu negócio seja o próximo “Paladar” a fechar as portas.