Dor ao urinar, ardência e desconforto que ninguém descobre? Pode ser mais do que infecção!

Ela sente dor para urinar. Ardência. Pressão na região pélvica. Uma sensação constante de que algo está errado. Vai ao médico, faz exame de urina… mas o resultado vem normal. Toma antibiótico, melhora por alguns dias… e logo os sintomas voltam.

 

Essa história, cansativa, frustrante e solitária, se repete todos os dias na vida de milhares de mulheres. E, muitas vezes, o que parece uma infecção urinária que “não cura nunca” pode ser, na verdade, algo completamente diferente: cistite intersticial, também conhecida como síndrome da bexiga dolorosa.

 

O que é a cistite intersticial?

O urologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Alexandre Sallum Bull, explica: “A cistite intersticial é uma condição crônica e ainda pouco reconhecida, que provoca dor pélvica persistente, urgência urinária, aumento da frequência urinária e desconforto durante e após a micção. Diferente da infecção urinária tradicional, ela não tem relação com bactérias, por isso, o exame de urina costuma estar normal.”

 

Trata-se de uma inflamação da parede da bexiga, que afeta os nervos e tecidos locais, gerando dor e uma série de sintomas que confundem médicos e pacientes. Por isso, o diagnóstico costuma ser tardio e o sofrimento, prolongado.

 

O ciclo do erro: quando o tratamento vira frustração

Um dos maiores desafios da cistite intersticial é o fato de ela imitar sintomas de infecção urinária. Isso faz com que muitas mulheres passem anos tratando o que acreditam ser uma ITU (infecção do trato urinário), tomando antibióticos repetidamente, sem melhora real.

 

Enquanto isso, a inflamação crônica vai se agravando. O revestimento da bexiga fica cada vez mais sensível e vulnerável, a dor se intensifica, e o impacto na qualidade de vida especialmente emocional e sexual, se torna devastador.

 

Como diferenciar da infecção urinária comum?

Embora os sintomas possam parecer semelhantes, existem algumas pistas:

 

Dor constante e sensação de pressão na bexiga, mesmo sem febre ou sinais claros de infecção;
Urgência urinária com urina clara e exames negativos;
Sintomas que pioram com determinados alimentos (como café, chocolate, refrigerantes, bebidas cítricas e apimentadas);
Histórico de múltiplos tratamentos para infecção sem resultado duradouro.

Diante desse quadro, o ideal é procurar um urologista que tenha experiência com dor pélvica crônica e que possa investigar com mais profundidade.

 

O diagnóstico exige paciência e escuta

Infelizmente, a cistite intersticial ainda é subdiagnosticada. Muitas pacientes ouvem que é “coisa da cabeça” ou que “precisam relaxar”. Mas não. A dor é real. O desconforto é verdadeiro. E existe tratamento. O primeiro passo é escutar a paciente com atenção, investigar com exames mais detalhados (como cistoscopia, questionários de sintomas e exclusão de outras causas) e descartar infecção ou alterações ginecológicas.

 

E o tratamento?

A cistite intersticial não tem cura definitiva, mas tem controle. A abordagem é sempre individualizada e pode incluir:

 

Mudanças alimentares (com exclusão de irritantes vesicais);
Medicamentos orais e intravesicais (introduzidos diretamente na bexiga);
Sessões de fisioterapia pélvica;
Técnicas de relaxamento e manejo da dor;
E, em casos específicos, procedimentos mais avançados.

O mais importante é saber que existe uma luz no fim do túnel. Quando a paciente é diagnosticada corretamente, sua vida muda. A dor deixa de controlar a rotina e ela volta a viver com liberdade, prazer e dignidade.

Se você ou alguém que conhece sente dor pélvica crônica, desconforto ao urinar, vontade constante de ir ao banheiro e não encontra respostas… não aceite a normalização da dor. Pode não ser só “mais uma infecção”.

O Dr. Alexandre Sallum Bull conclui: “A cistite intersticial é real, séria e tratável, mas precisa ser reconhecida. E quando diagnosticada a tempo, pode ser transformada de uma sentença invisível em uma nova chance de viver sem dor.”

 

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