Luta contra a obesidade e o emagrecimento vai além dos números indicados pela balança
É comum encontrar pessoas que lutam contra a perda de peso e até têm resultados na balança, mas fisicamente a gordura localizada permanece no corpo. Enquanto o peso corporal total engloba músculos, ossos, líquidos e gordura, emagrecer refere-se especificamente à redução da gordura corporal. Portanto, é possível perder peso eliminando líquidos ou massa muscular, sem que haja uma diminuição significativa da gordura.
Estudos científicos reforçam essa distinção entre perda de peso e emagrecimento. Uma pesquisa publicada no Journal of Obesity & Metabolic Syndrome, em 2020, demonstrou que intervenções focadas apenas na balança podem resultar em perda de massa muscular e líquidos, mas com pouca ou nenhuma redução significativa na gordura corporal.
Segundo o estudo, estratégias de emagrecimento eficazes precisam priorizar a redução da gordura visceral, especialmente a abdominal, em vez da simples queda numérica no peso total. Além da luta contra medidas, essa diferença é essencial para ganhos reais em saúde metabólica no geral e ajuda na prevenção de doenças como diabetes tipo 2 e hipertensão.
Para além da contagem de calorias e das dietas passageiras, o emagrecimento sustentável exige uma compreensão mais profunda do funcionamento do corpo humano. “Essas células não desaparecem com a perda de peso. Elas apenas encolhem. E se os hábitos inadequados retornarem, elas voltam a se expandir. É por isso que a manutenção do peso exige mudanças contínuas na rotina e acompanhamento com profissionais especializados”, afirma o gastroenterologista e cirurgião geral Mauro Lúcio Jácome, diretor da Clínica Cronos.
Muito além do que indica a fita métrica, a obesidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos maiores problemas de saúde pública do Século XXI. No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2023 revelaram que cerca de 22% da população adulta é obesa, enquanto mais da metade, 56,8%, está com excesso de peso.
Ampliando a magnitude, no mundo, a situação é igualmente alarmante. Um relatório da própria OMS de 2022 estimou que mais de 1 bilhão de pessoas convivem com sobrepeso ou obesidade. Isso inclui 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e ainda 39 milhões de crianças.
Contudo, para Dr. Mauro, o desafio, no entanto, vai além da balança. “Perder peso é só o começo. O mais difícil é sustentar a perda. Trata-se de um processo multifatorial e mais complexo, que exige até mesmo acompanhamento contínuo e regularidade nos seus processos. Isso inclui uma equipe multidisciplinar, seja com nutricionista, endocrinologista, psicólogo e até mesmo o educador físico”, completa.
Entretanto, o avanço da medicina tem ampliado as alternativas terapêuticas para pessoas com obesidade. “Procedimentos como a cirurgia bariátrica e a colocação do balão intragástrico são cada vez mais recomendados, especialmente em casos nos quais a reeducação alimentar e a atividade física não geram os resultados necessários. O balão intragástrico, por exemplo, ocupa parte do estômago e contribui para a saciedade precoce. Já a bariátrica, indicada para obesidade grau II com comorbidades ou grau III, promove uma alteração estrutural no trato gastrointestinal com impacto direto na absorção de calorias”, acrescenta o médico.
Seja qual for o caminho, o combate à obesidade exige, portanto, uma abordagem ampla, baseada em evidências científicas, ações de saúde pública e, sobretudo, educação continuada da população. Afinal, como mostram os dados, a gordura pode até diminuir, mas ela permanece à espreita, pronta para voltar se o corpo for negligenciado.
“O ganho de peso não acontece do dia para a noite. O quadro de obesidade é progressivo, baseado no acúmulo de maus hábitos que, por meses e até anos, seguem lineares. O emagrecimento é como se fosse um combate a esse tempo de ganho. O paciente precisa ter paciência, mudar a rotina e levar isso adiante. Sem desanimar. Só assim as células de gordura vão perder seu tamanho e o emagrecimento acontecerá de verdade, tanto na balança quanto no espelho”, finaliza Dr. Mauro.