Inspirado no conto do colombiano Gabriel Garcia Márquez, o premiado espetáculo da Pequena Companhia de Teatro será encenado pela primeira vez na capital mineira e traz à cena temas como isolamento e humanidade. A temporada da companhia contará ainda com ações formativas e reflexivas, como oficina, bate-papo, exposição e residência artística, além de sessões especiais com visitas táteis e tradução em libras
Livremente inspirada na obra de Gabriel Garcia Márquez, a peça “Velhos caem do céu como canivetes”, da Pequena Companhia de Teatro (Maranhão), chega neste mês a Belo Horizonte, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte. O enredo traz a mudança na vida de um catador de lixo depois da queda de um ser alado em seu quintal. É a partir desta premissa que a narrativa do premiado espetáculo se desenvolve. A temporada da peça na capital mineira acontece entre os dias 15 de novembro e 09 de dezembro, de sexta a segunda-feira, sempre às 19h. Os ingressos custam R$30 a inteira e R$15 a meia-entrada, e podem ser adquiridos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.
Além da série de apresentações teatrais, de 22 de novembro até 16 de dezembro, a exposição Pequena Mostra de Teatro, contará um pouco da história do grupo maranhense, a partir de objetos cênicos, cartazes, figurinos, entre outros elementos. Também integram a temporada ações formativas e reflexivas como a oficina gratuita “Artesania Iluminocenográfica: desenvolvendo tecnologia a partir da obsolescência”, o debate “Desconstruindo Velhos caem do céu como canivetes”, e a residência artística “Teatralidades”, encerrando o “Fórum Permanente de Reflexão”.
O espetáculo
Com dramaturgia e direção de Marcelo Flecha, a peça “Velhos caem do céu como canivetes”, montada pela Pequena Companhia de Teatro traz no elenco os atores Cláudio Marconcine, no papel do Ser Humano, e Jorge Choairy, como o Ser Alado. Livremente adaptada do conto “Un señor muy viejo con unas alas enormes”, do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, a história traz o exílio de um personagem e a miséria do outro, em um cenário pós-apocalíptico permeado de desesperança. Com uma trama em volta da rotina de um homem que tenta sobreviver à miséria que assola sua família, o espetáculo apresenta um abismo entre as percepções, os preconceitos, os medos e as dúvidas dos personagens.
Segundo o diretor do espetáculo, Marcelo Flecha, “cada espetáculo é uma nova oportunidade para refletir sobre a humanidade. Exílio, miséria, fé… É o cardápio de ‘Velhos caem do céu como canivetes’. Ou nenhuma dessas opções, se o espectador escolher degustar a intolerância, a desesperança. Coautor criativo, talvez ele prefira a natureza autodestrutiva da humanidade. São escolhas… o teatro não vai mudar o mundo, vai mudar a sua leitura de mundo”.
A primeira temporada de “Velhos caem do céu como canivetes” foi realizada em 2013 em São Luís (MA), e hoje são mais de 80 apresentações em 23 cidades de 14 estados. Além disso, a peça já circulou pelos projetos SESC Amazônia das Artes, por todas as capitais da Amazônia Legal, pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, pelo centro-oeste do país, além de realizar ocupação no Centro Cultural BNB, em Fortaleza, pelo programa BNB de Cultura.
Na sua montagem, a encenação trabalhou com a metodologia desenvolvida pela Pequena Companhia de Teatro durante a última década, sistematizada no instrumento denominado Quadro de Antagônicos. É através desse instrumento que os caminhos da encenação são indicados, partindo da oposição física como fundamento para o treinamento do ator e a construção das personagens.
A história traz o encontro inesperado de um ser alado e um ser humano. O espanto inicial do espetáculo dá lugar à necessidade de identificar o estranho ser, gerando um permanente questionamento quanto à definição do ser alado. Seria um anjo? Um frango? Um delírio provocado pela fome? É nessa teia que o espectador é convidado a se equilibrar, enquanto os dois seres se digladiam em um intenso confronto dialético. O exílio forçoso de um, e a miséria do outro, pontuam a trama, que apresenta um cenário pós-apocalíptico permeado de desesperança. Um ser alado e um ser humano, no abismo de suas percepções, preconceitos, medos e dúvidas.
A montagem também é marcada pelo uso sustentável dos recursos. Destacam-se o conceito de artesania, de manualidade, onde tudo é executado com o apuro, a imperfeição e a organicidade que só as mãos produzem. O grupo traz o comprometimento com um fazer teatral sustentável, onde cenário e iluminação são desenvolvidos a partir da observação dos elementos plurais do descarte urbano, com uso de materiais recicláveis.
Premiações
O espetáculo foi contemplado com dois Prêmios FUNARTE de Teatro Myriam Muniz 2012/2013. Vencedor do V Prêmio SATED – MA de Artes Cênicas nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Ator (Jorge Choairy). Participou da 8ª Aldeia SESC Guajajara de Artes, da IX e 14ª Semana do Teatro no Maranhão e da Conexão Teatro, em São Luís/MA, da Semana de Artes de Balsas/MA, do 21° Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga/CE e 9º FENTEPIRA – Festival Nacional de Teatro de Piracicaba/SP, FestLuso-Festival de Teatro Lusófono/PI, dentre outros.
Exposição Pequena Mostra de Teatro
O público poderá conferir fotos, cartazes, objetos cenográficos e iluminocenográficos, mostruário, catálogos, figurinos e materiais na exposição Pequena Mostra de Teatro, que retrata a trajetória, pesquisa e desenvolvimento do grupo teatral maranhense ao longo de quase 20 anos de existência. A mostra estará disponível no Foyer do Teatro II, das 10h às 22h, a entrada é gratuita e não é necessária a retirada de ingressos. A partir dos objetos cênicos a mostra apresenta as tecnologias desenvolvidas pelo grupo para reduzir os impactos ambientais, a construção de uma pesquisa de linguagem focada na dramaturgia e o compromisso político de operar o teatro como um potente instrumento de reflexão para além do entretenimento.
Atividades formativas e reflexivas
Durante a temporada de Velhos caem do céu como canivetes em Belo Horizonte, a Pequena Companhia de Teatro vai oferecer uma série de atividades no espaço do CCBB BH. Segundo o diretor Marcelo Flecha, esta é uma oportunidade de aproximar o público da Companhia e compartilhar também a busca por um fazer teatral que une impacto social, cultural e ambiental.
Nos dias 27 e 28 de novembro e 4 e 5 de dezembro, das 15h às 18h, será realizada a oficina gratuita “Artesania Iluminocenográfica: desenvolvendo tecnologia a partir da obsolescência”, voltada para iluminadores, cenógrafos, alunos de teatro, artistas de teatro, encenadores e pesquisadores com interesse em dramaturgia da luz a partir de iluminações não convencionais. Serão 30 vagas. Para se inscrever, basta acessar o site ccbb.com.br/bh.
Já no sábado, dia 07 de dezembro, após a apresentação do espetáculo, haverá um debate com o diretor Marcelo Flecha, os atores Cláudio Marconcine e Jorge Choairy e a produtora Katia Lopes, com o tema “Desconstruindo Velhos caem do céu como canivetes”. A atividade trará o processo de criação e adaptação da obra literária para os palcos dos teatros.
E para encerrar, entre os dias 13 e 16 de dezembro, das 15h às 18h, será realizada a residência artística “Teatralidades”, encerrando o “Fórum Permanente de Reflexão”, que promove encontros entre a Pequena Companhia de Teatro e dois grupos de teatro locais convidados. Nesta ação, dois grupos da cidade de Belo Horizonte, participarão de uma jornada contínua de discussão, onde acompanharão todo o processo da Pequena Companhia de Teatro na cidade. A atividade envolve não só os encontros para discussões de procedimentos metodológicos, como também a montagem do cenário, a participação nas oficinas, a preparação do elenco, as rotinas de apresentação, ensaios, desmontagens, revigorando a experiência de troca das companhias envolvidas, concluindo com uma residência no CCBB BH para experimentações metodológicas, treinamentos e construções dramatúrgicas.
Acessibilidade
A temporada da Pequena Companhia de Teatro no CCBB BH contará com ações de acessibilidade com o objetivo de possibilitar a fruição de todos, incluindo pessoas cegas, de baixa visão e a comunidade surda. A programação contará com uma visita tátil, a ser conduzida por um guia tátil, após o espetáculo aos sábados, nos dias 16, 23 e 30/11 e 7/12, mesmo dia em que haverá tradução em Libras.
Pequena Companhia de Teatro
A Pequena Companhia de Teatro, em atividade desde 2005, com sede própria – um prédio de 600 m² no centro histórico de São Luís, tombado como patrimônio cultural da humanidade – é composta pelos atores Cláudio Marconcine e Jorge Choairy, pelo encenador Marcelo Flecha e pela produtora Katia Lopes. Concentra quase duas décadas de trajetória no desenvolvimento de uma linguagem que potencialize seus conteúdos e na democratização do acesso a esses resultados através de leituras dramáticas, debates, oficinas, intercâmbios, ocupações e circulações dos seus espetáculos.
Participou dos principais projetos de circulação nacional: Palco Giratório 2012 – Rede SESC de Difusão e Intercâmbio das Artes Cênicas, Viagem Teatral 2013 – SESI, Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2015/2016 e 2017/2018, e SESC Amazônia das Artes 2016.
Vencedora de 4 (quatro) Prêmios FUNARTE de Teatro Myriam Muniz, em 2009, 2011, 2012, e, em 2013, a premiação contemplou a manutenção das atividades da companhia com o projeto Teatralidades, que realizou, em 2014, apresentações dos seus espetáculos em repertório, debates, atividades formativas, treinamentos, leituras dramáticas, seminários e catalogação de acervo – todas atividades com entrada franca. Em 2015 e 2016, foi selecionada consecutivamente pelo edital de Seleção de Projetos Culturais BNB, e os projetos Teatralidades ocuparam os Centros Culturais BNB de Sousa/PB e Fortaleza/CE, com todo o seu repertório de atividades.
Em sua trajetória, além de “Velhos caem do céu como canivetes”, constam os espetáculos “O Acompanhamento”, de Carlos Gorostiza; “Entre Laços”, de Gilberto Freire de Santana; “Pai & Filho”, de Marcelo Flecha, a partir da obra “Carta ao Pai”, de Franz Kafka; “Extrato de Nós”, de Cláudio Marconcine; e “Ensaio sobre a Memória”, de Marcelo Flecha, a partir do conto “A outra morte”, de Jorge Luís Borges, que já se apresentaram em 72 cidades de 25 estados do país.
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.