Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher debate importância do devido atendimento à saúde para garantir qualidade de vida após o climatério.
Fogachos, alterações do sono, irritação, ganho de peso, fadiga: estes são apenas alguns dos mais de 50 sintomas conhecidos da menopausa, que acomete principalmente as mulheres com mais de 40 anos de idade.
A necessidade de políticas públicas para garantir o devido atendimento de saúde a essas mulheres foi defendida pelos participantes da audiência realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (16/7/24).
O climatério é definido como a fase de transição fisiológica entre os períodos reprodutivo e não reprodutivo da mulher. Ele costuma começar por volta dos 40 anos de idade, provocando alterações hormonais que podem comprometer a qualidade de vida.
Do ponto de vista clínico, a menopausa é a última menstruação da mulher e marca o momento de falência do ovário, órgão responsável pela produção dos hormônios reprodutivos femininos, como explicou o ginecologista Walter Pace.
Conforme lembrou o médico, os sintomas da menopausa incluem também a piora do raciocínio e da capacidade sexual e até tendência à depressão. “Se não dermos a atenção correta a essas mulheres, elas vão viver muito mal”, alertou.
Segundo a psicóloga Simone da Silva Sena, a menopausa pode agravar os riscos de doenças cardiovasculares, depressão, diabetes, demências e osteoporose. Ela lembrou que também há impactos no mercado de trabalho, devido às perdas de produtividade laboral das mulheres menopausadas.
Com o aumento da expectativa de vida da população, a tendência é de que as mulheres passarão pelo menos um terço de suas vidas no pós-menopausa. “É urgente discutirmos políticas públicas para dar amparo a essas mulheres. Muitas estão desassistidas; poucas fazem terapia de reposição hormonal”, defendeu Simone Sena.
Apesar dos transtornos cotidianos, o tratamento com hormônios e o devido acompanhamento médico podem garantir qualidade de vida para as mulheres depois do climatério. “A menopausa pode até ser uma pequena pausa para a mulher se reestruturar, mas nunca um ponto final”, finalizou a psicóloga.
Menopausa precoce atinge mulheres com menos de 30 anos
A dificuldade de acesso a médicos especialistas e a medicamentos mais modernos, como os hormônios bioidênticos, são obstáculos a serem superados pelas mulheres na busca de maior qualidade de vida na menopausa, conforme lembrou a fundadora da Associação Menopausa Feliz, Adriana Ferreira.
A falta de conhecimento sobre a menopausa é outro problema na vida das mulheres, segundo Adriana Ferreira. “Ninguém nos ensina a envelhecer. A menopausa é dita aos sussurros, como se fosse um rótulo de mulher velha”, comentou.
Mas essa condição clínica afeta pelo menos 35 milhões de mulheres no Brasil, segundo os dados levantados pela Associação Menopausa Feliz. Apenas em 2023, foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) 258.722 diagnósticos de menopausa. Do total de casos registrados, 46,8% são de mulheres com idade entre 50 e 59 anos e outros 32,9% referem-se à faixa etária de 40 a 49 anos.
Mas a menopausa precoce pode afetar mulheres com menos de 30 anos de idade. É o caso da técnica em segurança do trabalho Fernanda Souza, que passou por isso aos 25 anos, embora tenha recebido o diagnóstico somente aos 29 anos.
“Passei quase cinco anos da minha vida com vergonha, sem saber o que era menopausa. Entrei em depressão, pois não conseguia me abrir com ninguém”, contou. Fernanda disse que quase chegou ao ponto de tentar tirar a própria vida, mas conseguiu superar os seus problemas com reposição hormonal. “Hoje eu vivo uma menopausa feliz”, disse.
Deputada propõe programa de atenção à saúde
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), disse que a falta de orientação sobre a menopausa é motivo de preocupação. Ela lembrou que a população brasileira com mais de 65 anos de idade aumentou 57,4% entre 2010 e 2022, e esse crescimento dá a dimensão do tamanho do desafio para garantir qualidade de vida para as mulheres na menopausa.
A parlamentar é autora dos Projetos de Lei (PLs) 3.597/22, que institui o Programa Mineiro de Atenção à Saúde no Climatério e aguarda parecer de 1º turno da Comissão de Saúde; e 3.795/22, que institui o Dia Estadual de Conscientização sobre o Climatério e a Menopausa, que aguarda parecer de 1º turno da Comissão de Constituição e Justiça.
*Por Laura Fialho, estagiária sob supervisão de Ícaro Ambrósio.