Inverno aumenta casos de doenças respiratórias nas crianças, alerta professora da Faculdade Ciências Médicas

Com a chegada do inverno, surgem preocupações dos pais com a saúde das crianças e as doenças típicas desse período. É importante notar que os vírus respiratórios começam a circular já no outono, quando a temperatura está mais baixa e o tempo mais seco. Portanto, o outono também traz muitos problemas. Com a circulação viral elevada e o ar seco e frio, as vias aéreas ficam mais sensíveis, aumentando a vulnerabilidade às infecções respiratórias. Isso se agrava no inverno, pois o tempo fica ainda mais seco e frio, agredindo a mucosa respiratória e favorecendo a circulação dos patógenos. É fundamental reconhecer que isso acontece devido à sazonalidade, para que possamos administrar com mais tranquilidade as condições das crianças.

A pneumologista e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Isabela Picinin, destaca que a maior parte dos quadros infecciosos nessa época do ano são virais, causados por vírus respiratórios. “Existem vírus mais agressivos e vírus mais brandos, resultando em uma diversidade de quadros clínicos. Os mais brandos causam resfriados leves, com sintomas como nariz escorrendo e entupido, garganta arranhando e secreção nas vias aéreas, mas geralmente sem comprometer o estado geral. Esses casos são tratados com medidas sintomáticas, como lavagem nasal com soro fisiológico, hidratação e alimentação saudável. É importante também evitar enviar a criança doente para a escola para não contagiar outras crianças”, enfatiza a pneumologista.

Uma parte menor, mas impactante, dos quadros respiratórios é causada por vírus mais graves, como o influenza, responsável pela gripe, para a qual há campanhas de imunização. Os vírus influenza A e B podem causar quadros severos, com necessidade de internação e, em casos extremos, óbito, especialmente em grupos de risco, como crianças menores, idosos, pessoas com comorbidades e puérperas. “Especialmente nesses grupos, temos que estar atentos. Esses vírus podem cursar com quadros respiratórios mais severos, com dificuldade respiratória, muitas vezes com o uso de musculatura acessória. O que é isso? O afundamento das costelinhas, o afundamento dessa região abaixo do pescoço, o batimento das aletas do nariz, ou seja, o nariz fazendo força para fazer a entrada e a saída do ar. Nesses casos, o paciente deve ser direcionado ao serviço de urgência. Muitas vezes essas pessoas precisam de um suporte hospitalar que inclui, inclusive, o uso de oxigênio. Uma porcentagem menor, mas também importante desses quadros respiratórios, poderá ser bacteriana e muitas vezes ela é uma complicação de um quadro viral. Às vezes, a criança começa resfriada ou com quadro de gripe e aí o organismo fica mais frágil, mais debilitado, com as defesas reduzidas. E aí a bactéria é um agente oportunista e ele acaba se proliferando nessa secreção da via aérea causando quadros que demandam o uso de antibiótico. Pode ser uma otite, uma amigdalite bacteriana, uma sinusite bacteriana e, eventualmente, a pneumonia. Então, os alertas são a febre alta persistente e prostração, perda acentuada de apetite e um alerta também didático, que aquela criança que estava melhorando voltou a ter febre. Elas podem estar sendo acometidas por um quadro bacteriano secundário e a família deve procurar o atendimento médico”, diz Isabela.

Outro vírus que causa muitos problemas nessa época do ano é o vírus sincicial respiratório (VSR). Ele acomete principalmente bebês e crianças pequenas, de até dois anos de idade, e pode causar um quadro chamado bronquiolite viral aguda. A pneumologista explica que a doença é a inflamação das pequenas vias aéreas da criança, o que favorece a retenção de secreção e muitas vezes está associada a quadros graves. “Essas crianças, às vezes, precisam de internação e intubação, muitas vezes com uma permanência prolongada em CTI, o que gera um impacto grave na família e também sobrecarrega o serviço público, pois são crianças que muitas vezes demandam terapia intensiva. Está disponível no SUS um anticorpo monoclonal, ou seja, um anticorpo pronto, que é dado aos bebês que são grupos de risco, como os cardiopatas e prematuros extremos, no período da sazonalidade viral. É importante que as famílias com prematuros, crianças com problemas pulmonares ou cardíacos consultem os médicos pediatras para saber se fazem parte do grupo elegível para receber esse anticorpo monoclonal contra o VSR. Recentemente, houve uma boa notícia de que uma vacina estará disponível, mas ainda não está amplamente acessível provavelmente terá um custo elevado. Portanto, ainda não é algo que trará benefícios do ponto de vista de saúde pública. Outra boa notícia é a vacina contra o vírus respiratório sincicial administrada na gravidez, que permite que a mãe produza anticorpos e os passe para o bebê, protegendo-o já ao nascer contra esses quadros. Mas essa vacina foi liberada pela Anvisa apenas recentemente, também ainda não é uma realidade no serviço público e, provavelmente, levará um tempo até que seja incorporada a ponto de trazer benefícios mais palpáveis para a saúde coletiva”, finaliza a especialista.

Por fim, os quadros alérgicos: o tempo frio e seco irrita as vias aéreas. Muitas vezes, não se trata de um quadro infeccioso, mas sim alérgico. Crianças com rinite alérgica sofrem com espirros e prurido nasal (coceira no nariz), conjuntivite alérgica (coceira nos olhos) e, aquelas com asma, podem apresentar crises asmáticas, popularmente conhecidas como crises de bronquite. Os pequenos precisam de acompanhamento especializado para a detecção precoce das crises alérgicas e respiratórias. No caso da asma, é importante o uso correto das medicações inalatórias, conhecidas popularmente como bombinhas. As famílias devem ter acesso a essa orientação, pois existem formas de prevenir e tratar essas exacerbações alérgicas e asmáticas.

É essencial que as pessoas se cuidem, se hidratem, evitem ambientes com poeira e cheiro forte, bebam muita água e tenham uma alimentação rica em frutas, vegetais e alimentos frescos. Evitar alimentos ultraprocessados, ricos em corantes e conservantes, que podem agravar as alergias das vias aéreas. Manter a saúde em dia com consultas regulares é fundamental para superar o inverno com o menor impacto possível para as crianças.

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