Dois ou mais episódios em seis meses já caracterizam o problema; especialista explica causas, exames indicados e formas de prevenção
Conhecidas popularmente como infecções urinárias de repetição, as infecções do trato urinário (ITU) recorrentes são caracterizadas por dois ou mais episódios em seis meses, ou três ou mais em um ano. A condição afeta principalmente as mulheres: segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), elas têm até 50 vezes mais chances de desenvolver ITU que os homens. Além disso, entre 30% e 40% das mulheres terão pelo menos um episódio ao longo da vida.
Entre as principais causas desse tipo de infecção estão a higiene íntima inadequada, o uso incorreto do papel higiênico e, em algumas mulheres, a relação sexual, que pode facilitar a entrada de bactérias. Outros fatores de risco incluem o hábito de segurar a urina por longos períodos, a ingestão insuficiente de água e alterações anatômicas nas vias urinárias, como cálculos (pedras) ou malformações.
De acordo com o infectologista e consultor médico do Sabin Diagnóstico e Saúde, Marcelo Cordeiro, o diagnóstico de ITU recorrente é feito com base nos sintomas e por meio de exames de urina. Embora possam variar, os sinais mais comuns incluem dor ou queimação ao urinar, necessidade frequente de ir ao banheiro e urina com odor forte.
“Em casos de infecção urinária de repetição, é importante fazer a urocultura, exame que identifica exatamente qual bactéria está causando a infecção e qual antibiótico será mais eficaz. Isso evita erros no tratamento e orienta a escolha do medicamento adequado”, explica o especialista.
Para exames simples de urina (EAS) ou urocultura, a amostra deve ser coletada em frasco estéril após higienização adequada da região íntima. No EAS, o laboratório avalia a presença de leucócitos, bactérias, sangue, nitrito e outras alterações que podem indicar infecção ou inflamação. Já a urocultura identifica a bactéria causada.
Atualmente, esses exames são realizados de forma automatizada, o que agiliza a liberação dos resultados. Em alguns casos, pode ser necessário realizar exames de imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, para avaliar a extensão da infecção e investigar outras causas dos sintomas.
Tratamento e prevenção
O tratamento das infecções urinárias recorrentes difere da abordagem para um episódio isolado. Enquanto uma ITU comum geralmente é resolvida com um curto ciclo de antibióticos, a recorrência pode exigir estratégias mais prolongadas e personalizadas.
“O tratamento é feito com antibióticos, mas, nos casos de repetição, pode ser necessário prolongar o uso”, esclarece Cordeiro. “Em algumas situações, indica-se antibiótico preventivo em dose baixa por alguns meses. Se houver causa associada, como cálculo renal ou alteração anatômica, ela também precisa ser corrigida para evitar novas infecções”.
Medidas preventivas diárias são fundamentais. Entre as principais orientações estão beber bastante água, não segurar a urina, urinar após as relações sexuais e realizar higiene íntima correta (sempre da frente para trás).
“Também é importante evitar duchas vaginais frequentes, sabonetes íntimos agressivos e roupas muito apertadas. Para mulheres na menopausa, cremes vaginais com hormônio, sob prescrição médica, podem ser uma opção devido à queda do estrogênio. A redução do hormônio causa ressecamento e afinamento da mucosa vaginal e uretral, facilitando a entrada e multiplicação de bactérias”, finaliza o infectologista.