Além da experiência dos profissionais e adequada infraestrutura do hospital, o trabalho realizado em equipe em sintonia pode ser um diferencial importante
O trabalho de equipe é importantíssimo em diversas áreas. No tratamento oncológico não é diferente, e em muitos casos pode significar o sucesso de um tratamento e até mesmo a possibilidade de sobreviver a uma cirurgia de alta complexidade, como é o caso da cirurgia citorredutora, uma das principais formas de tratamento da Carcinomatose Peritoneal.
Considerada um procedimento de alta complexidade, esta cirurgia requer não apenas o cirurgião, mas também toda uma equipe especializada, experiente, além de um hospital com infraestrutura capaz de reverter as diversas intercorrências possíveis ao longo do processo.
Este foi o tema de uma das mais importantes lives promovidas pelo Centro de Carcinomatose Peritoneal, que reuniu o cirurgião geral e oncológico Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, coordenador do Centro de Doenças Peritoneais da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, os médicos anestesiologistas Dr. Rodolfo Rebuglio (AMD Anestesia) e Dr. André Sendacz, e o médico intensivista Dr. Rodrigo Thot, coordenador da UTI do Hospital BP Mirante.
Na conversa, o Dr. Arnaldo revelou algumas situações em que a sincronia da equipe durante e após a cirurgia foi decisiva para a recuperação do paciente.
“Em alguns casos, precisamos agir de forma diferente do protocolo habitual, pois a média não serve para todos. Cada paciente tem as suas particularidades e precisamos avaliar individualmente os casos, especialmente quando falamos de situações graves, em que não há margem para indecisão”.
Os médicos presentes na live, todos eles com muita experiência em cirurgias citorredutoras com e sem HIPEC e no atendimento a pacientes com carcinomatose peritoneal, concordaram com estas premissas.
“Tem de haver um alinhamento muito grande entre cirurgião, anestesista e a equipe como um todo, para que possamos estar sempre um passo à frente. No caso de cirurgias como estas, de alta complexidade, é preciso perceber as alterações e reverter antes das complicações acontecerem. Não podemos esperar a situação se agravar para tomar uma atitude”, explica Dr. Rodolfo.
O médico intensivista Dr. Rodrigo concorda, e lembra que mesmo que o paciente chegue na UTI bem após a cirurgia, e isso não é raro quando a cirurgia é realizada por equipes experientes, pelo fato de serem procedimentos muito agressivos e períodos muito longos de cirurgias, o pós-operatório será sempre muito delicado.
“Diversas questões deverão ser observadas rigorosamente, pois certamente haverá algum grau de instabilidade no paciente nas primeiras 24 ou 48 horas, tudo depende de como transcorreu a cirurgia e do estado de saúde de cada um”.
O Dr. André complementa lembrando que todas estas questões são muito variáveis e dependem diretamente da comunicação entre as diferentes áreas envolvidas na cirurgia.
“A comunicação entre anestesia e terapia intensiva, por exemplo, é fundamental. Ao longo da cirurgia citorredutora, todas as áreas do abdômen são manipuladas. Depois de anos de experiência, já sabemos em que ordem as coisas vão acontecer, quais regiões serão trabalhadas, o que é preciso fazer. Esse conhecimento torna o trabalho da equipe mais dinâmico, mais integrado. O benefício será sempre do paciente”.
Para conferir a live completa, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=jdf4PPR1hfo
Carcinomatose Peritoneal
A carcinomatose peritoneal é a disseminação de um câncer pela cavidade abdominal. De acordo com o Dr. Arnaldo, a doença sai de seu órgão de origem e se espalha pelo peritônio, membrana de revestimento interno do abdome.
“A carcinomatose pode se originar em órgãos como ovário, apêndice, intestino grosso (colón), reto, pâncreas, estômago, mama e primariamente do peritônio. Antigamente não havia qualquer expectativa de cura para o paciente com carcinomatose peritoneal, que levava à morte em decorrência de complicações, como a obstrução intestinal”.
Tratamento
Hoje em dia, com as técnicas existentes, profissionais em constante capacitação e hospitais de referência para o tratamento da carcinomatose, o prognóstico pode ser diferente.
Com o advento da cirurgia denominada peritoniectomia (cirurgia citorredutora) e a técnica de quimioterapia quente no abdome no intra-operatório, chamada quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC), alguns pacientes chegam à cura da carcinomatose. Outros, podem ser beneficiados com sobrevidas muito mais longas.
A técnica, desenvolvida pelo cirurgião norte-americano Dr. Paul H. Sugarbaker, consiste na ressecção do peritônio doente e dos demais órgãos que possam estar acometidos.
Infelizmente, nem todos os pacientes se beneficiam da cirurgia. Nos casos de câncer no estômago ou pâncreas, por exemplo, por serem muito agressivos, a cirurgia normalmente não é indicada.
A carcinomatose peritoneal de origem gástrica ou pancreática normalmente é acompanhada de prognóstico muito ruim, sendo a cirurgia reservada para casos muito selecionados. Por outro lado, casos originários de pseudomixoma, câncer de ovário, câncer primário de peritônio, câncer de apêndice, de intestino e do mesotelioma abdominal são os que melhor respondem à cirurgia.