Em trajetória meteórica, grupo vocal nasceu em Divinópolis, lançou disco solo e se dissolveu em meio a questões mercadológicas da década de 1980. Pré-estreia do longa acontece dia 6 de dezembro, no Cine Santa Tereza.
No fim da década de 1960 e meados de 1970, surgia em Divinópolis (MG) um quarteto que ganharia destaque entre os grupos vocais daquele período. Sucesso em festivais de música alternativa e prestigiado pelo público, o AdCanto, composto por Lemão, Jairo de Lara, Kiko e Lou Petrus, em 1982 gravou seu único LP, pela RCA. O disco foi aclamado pela crítica nacional, mas o grupo se desfez logo após a gravação, deixando saudade nos fãs da banda. Agora, 42 anos depois, o diretor e roteirista Diego Lara resgata a história do AdCanto no documentário “Alma de Músico”, produzido pela Território Audiovisual e pela Etama Produções. O filme tem pré-estreia no dia 6 de dezembro, às 19h, no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte. “É um documentário que homenageia a carreira desse grupo, e que revela especialmente à juventude de hoje a nossa riqueza musical, ajudando a preservar essa memória”, esclarece o diretor.
Após a pré-estreia em Belo Horizonte, o documentário será apresentado em Divinópolis, no dia 13 de dezembro, às 20h, no Grande Salão Paroquial Santuário Santo Antônio, e em Itapecerica, no dia 14 dezembro, às 19h, na Praça D. José Medeiros Leite. As exibições são gratuitas. Mais informações pelo Instagram @territorioaudiovisual.
A obra é ainda uma forma de responder à indagação que continua ecoando no universo musical de Divinópolis: o porquê da desintegração tão precoce da banda. “Há várias ‘lendas urbanas’ na cidade sobre o fim do AdCanto. Por isso, esse filme é também uma maneira de dar voz aos componentes do grupo, para que eles mesmos possam contar seus motivos”, complementa Lara.
Na busca por essas respostas, a partir dos depoimentos dos quatro membros originais do grupo, o longa-metragem acaba ampliando sua abordagem. Além da narrativa pessoal dos integrantes, “Alma de Músico” retrata o contexto cultural e o panorama musical da época, e traz à tona histórias conhecidas no meio, mas pouco noticiadas para o grande público. Numa jornada que atravessa os acordes e sobrepõe as memórias, aborda também os “contextos políticos, ideológicos e culturais da década de 1980 em relação ao cenário musical”, como destaca o diretor e principal idealizador do projeto, Diego Lara.
Num reencontro único e carregado de emoção, o roteiro inclui a participação do pianista Túlio Mourão e do produtor cultural Gegê Lara, que compartilham sua visão sobre a banda e o contexto histórico em perspectiva. Há 50 anos à frente de grandes espetáculos da música nacional e internacional na capital mineira, com nomes como Paul McCartney, Ozzy Osbourne, Eric Clapton e B. B. King, Gegê Lara iniciou sua carreira trabalhando diretamente com o AdCanto e outros músicos de Divinópolis. “Comecei a trabalhar com artistas da música na década de 70, em Divinópolis, e posso dizer que o AdCanto me deu a régua e o compasso. Depois, já com a minha produtora em Belo Horizonte, produzi o show de lançamento do primeiro e único disco do grupo, no Teatro do ICBEU”. Num breve spoiler do documentário, ele insinua uma das razões para o fim precoce da banda. “O sonho e o maior desejo de todos os músicos e grupos musicais do Brasil inteiro naquela época era chegar ao disco, aquele grande vinil. Eles chegaram, mas não tiveram nada de apoio da gravadora para divulgarem o trabalho. Talvez daquele momento em diante tenham desistido da luta. E eles não foram os únicos”, revela.
“Alma de Músico” traz clipes, fotos antigas, vídeos e materiais de arquivo levantados em um amplo trabalho de pesquisa, numa montagem que interpõe gravações, entrevistas e depoimentos. Entre os participantes estão ainda Frei Joel (falecido recentemente), mestre de canto do Coral que os integrantes do AdCanto participaram na infância e parte importante de sua trajetória musical; Gê Lara, músico e irmão de Lemão que teve protagonismo na criação da banda; entre outros nomes que conviveram e fizeram história com o grupo.
O documentário é o primeiro longa-metragem dirigido por Diego Lara, que cresceu escutando as músicas do AdCanto, no toca-discos dos pais. Ele conta do parentesco com o grupo – três integrantes são primos de seu pai, o que explica a intimidade e o desejo, até certo ponto nostálgico, de relatar a história da banda. “O grupo AdCanto sempre existiu na minha vida. A música deles estava sempre permeando meu cotidiano. Nos encontros familiares, sempre tive contato com eles e com esse ambiente musical”, diz.
Diego Lara tem em seu portfólio trabalhos como: A Ilha dos Gatos, com ampla disseminação no youtube (mais de um milhão de visualizações); o curta-metragem ROCMINAS: A (R)evolução da Escalada Mineira, selecionado no Rio Mountain Festival 2024 e exibido na Redeminas no programa Faixa de Cinema em abril de 2023; dois documentários sobre o projeto Quilombo Vivo, realizados pelo Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva; os videoclipes Corpo Vida e Sempre Viva, de Sol Bueno e Rodrigo Salvador, entre outros.