LUME Teatro (SP) celebra 40 anos com temporada do espetáculo “KINTSUGI, 100 memórias”, no palco do CCBB BH

A partir de pesquisas iniciais sobre o Alzheimer, os artistas revisitam, em cena, desde memórias coletivas (do Brasil da ditadura à redemocratização), a memórias pessoais e do próprio grupo idealizado, em 1985, por Luís Otávio Bournier. A peça tem direção do argentino Emilio García Wehbi (El Periférico de Objetos) e dramaturgia de Pedro Kosovski (Prêmios Shell e APCA)

No dia 22 de agosto, sexta-feira, chega pela primeira vez a Belo Horizonte “KINTSUGI, 100 memórias” – espetáculo mais recente do LUME Teatro, dirigido pelo argentino Emilio García Wehbi e escrito pelo carioca Pedro Kosovski (Prêmios Shell e APCA). A temporada de estreia na capital mineira celebra quatro décadas do grupo, sediado no distrito de Barão Geraldo, Campinas (SP), que se tornou referência internacional no campo da pesquisa, experimentação e criação em artes cênicas, com a montagem de mais de 20 espetáculos e passagens por 30 países.

A peça “KINTSUGI, 100 memórias” fica em cartaz até 15 de setembro, de sexta a segunda-feira, sempre às 19h, no Teatro II do CCBB BH. As sessões, aos sábados, contam com interpretação em Libras. Os ingressos para a temporada custam R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), com desconto de 50% para clientes que realizam o pagamento com cartão Ourocard, e estarão à venda a partir do dia 13/08 (quarta), na bilheteria do CCBB BH e pelo site ccbb.com.br/bh. Mais Informações no site ccbb.com.br/bh, nas redes sociais: instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh, ou pelo telefone (31) 3431-9400. Este projeto tem o patrocínio do Banco do Brasil.

Associada à temporada em Belo Horizonte, o LUME oferece ainda uma programação com três ações gratuitas. No dia 23/08 (sábado), às 15h, ocorre a exibição do vídeo-desmontagem “Eu me lembro: Flanando por Kintsugi – 100 memórias”, seguida de conversa com o elenco. A proposta do vídeo é “descosturar” para o público o processo de pesquisa e criação da obra, que estreou em maio de 2019. No dia 30/08 (sábado), também às 15h, Renato Ferracini ministra a palestra/conferência “Presença, Corpo e Coletividade”, em que busca pensar o corpo e a presença cênica como enlace poético, ético e coletivo entre ator/público/espaço/tempo. Para participação na exibição do vídeo-desmontagem, é necessário retirar o ingresso gratuito no site ccbb.com.br/bh. Já para participar da palestra, a pessoa interessada deve se inscrever por meio de preenchimento de formulário digital, disponível neste link.

E, no dia 06/09 (sábado), será realizado, após espetáculo, o bate-papo “Sobre memórias, processos e singularidades”, em que os atores do LUME discutem sobre memória como lugar de invenção e não como arquivo, propondo à plateia a seguinte questão: o que o público não gostaria de não esquecer? Para participar do bate-papo, não é necessário retirada de ingresso.

 

Kintsugi: processo e dramaturgia

Uma matéria de revista sobre o povoado de Angostura, na Colômbia, divulga: mais de 12% dos cerca de 12 mil habitantes do local apresentam uma mutação genética que leva a um tipo raro e precoce do Alzheimer. O fato desperta a curiosidade do grupo e se torna o ponto de partida para a criação de “KINTSUGI, 100 memórias”. “Trabalhar o Alzheimer, portanto, seria trabalhar um misto de memória-lembranças com esquecimento-desaparecimento”, explica Ana Cristina Colla, atriz do LUME.

Durante vários meses, a artista, ao lado dos colegas de grupo – Jesser de Souza, Raquel Scotti Hirson e Renato Ferracini – visitam a ala neurológica de hospitais e conversam com especialistas, familiares e pacientes com demência. Era 2018: “época em que o país mergulhava em um momento de apagamento histórico, obscurantismo e irracionalidades políticas”, contextualiza o ator Renato Ferracini.

Para condução do processo, o grupo convida Emilio García Wehbi – diretor, performer e artista visual argentino, do grupo El Periférico de Objetos (1989), conhecido por suas investigações cênicas no cruzamento entre linguagens. “Emilio nos trouxe algumas questões: seria essa política obscura, que toma conta de nosso país, fruto de uma doença em que a degeneração não pode ser detida pela vontade? Ou seria uma ação manipulada, calculada? Quais seriam as lembranças que queremos esquecer ou sequer tocar?”, lembra Ferracini.

A este ponto da pesquisa, o Alzheimer passa de doença a metáfora. E, agora, o grupo parte em busca de uma memória específica: não mais uma amnésia patológica, mas um esquecimento por opção. “Aquelas memórias que machucam, ferem, e que queremos que permaneçam quietas, inertes. Mergulhamos, então, em nossas sombras pessoais, grupais, sociais, para que pudéssemos compor uma obra de autoficção, ao mesmo tempo simples, direta e política, baseada numa singularidade que deseja se coletivizar”, conta o ator Jesser de Souza.

Cena e autoficção

Kintsugi, filosoficamente, “a beleza da imperfeição”, é uma palavra japonesa que significa literalmente emenda com ouro. Essa arte consiste em reparar a cerâmica quebrada com uma mistura de laca e pó de ouro, prata ou platina e, portanto, as peças restauradas, agora carregadas de história, costumam valer ainda mais que as originais que não sofreram rupturas.

A técnica, que dá nome à montagem, é evocada como metáfora logo na primeira ação da peça, quando os atores fazem um brinde e, em seguida, o ator Renato Ferracini estilhaça, no palco, um vaso de cerâmica. Mais adiante, Renato dirá: “Eu não preciso de vocês”. Esse acidente cobra dos artistas do LUME uma tomada de posição: de que modo juntar os fragmentos daquilo que um dia representou um contorno estável que os uniu enquanto companhia de teatro, durante tantos anos?

No palco, a plateia se depara com uma obra autoficcional e desconstruída, assinada pelo carioca Pedro kosovski – vencedor dos principais prêmios de artes cênicas do país, entre eles, Shell (espetáculo Caranguejo Overdrive), APCA, e APTR. Em “KINTSUGI”, os artistas levam para a cena, de forma não linear e fragmentada, um inventário de 100 memórias: individuais, memórias do grupo e memórias sociais – do Brasil da ditadura à redemocratização. Os relatos vêm acompanhados de objetos que resistiram ao tempo, alguns deles: relíquias de família, fotografias, diários, uma coleção de moedas, revistas e peças de roupa.

Embora o tempo imprima suas marcas e “cicatrizes”, para Pedro Kosovski, “KINTSUGI” fala sobre a escolha de resistir e seguir criando coletivamente. “Uma comunidade não se faz à força e muito menos é um todo irretocável. Uma comunidade se faz pelo desejo. Apesar do momento político do país que atravessamos, tantos traumas, a construção proposta em ‘KINTSUGI’ só poderia ser a de uma utopia: restaurar o desejo de estarmos juntos na diferença, restaurar o desejo de expansão em nossa imaginação política, restaurar fagulhas de um possível futuro, sim!”, comenta.

Música

Estudos hoje apontam que músicas conhecidas ativam lugares de memória que “driblam” o hipocampo, primeira região afetada pelo Alzheimer. Em “KINTSUGI, 100 memórias”, ela foi, portanto, um dos motores da pesquisa sobre a doença e inspiração para a criação do desenho sonoro da peça, assinado por Janete El Haouli e José Augusto Mannis. Em cena, o público assiste a três noturnos de Chopin, na interpretação de Brigitte Engerer, transformados e processados eletroacusticamente pelos artistas.

“Encontramos em Janete e Mannis a possibilidade de construção de um ambiente sonoro que compusesse com a camada corporal e cênica, que criasse pontes entre nós e cada espectador, entre nossa autoficção e as memórias de cada espectador; uma sonoridade que criasse um ‘bordado sonoro’, um ‘vapor de som’, com potência de acordar, justamente, memórias”, explica a atriz do LUME, Raquel Scotti Hirson.

Em paralelo às pesquisas sobre o Alzheimer, o grupo também convidou o performer Flávio Rabelo e a coreógrafa e bailarina Jussara Miller para somar ao processo criativo, com provocações artísticas. “Nosso desejo era sair do conforto. Navegamos pela performance, pelo corpo e seus vetores”, diz Raquel.

 

LUME – 40 anos de arte e resistência

O Lume Teatro – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp (SP) – celebra em 2025 seus 40 anos de trajetória, arte e resistência. Fundado em 1985, mesmo ano em que o Brasil também dá início à sua transição democrática, o grupo se constituiu como um espaço de pesquisa, liberdade criativa e aprofundamento da técnica do ator, em permanente estado de escuta com o tempo presente. O grupo foi idealizado por Luís Otávio Burnier, que, ao lado do ator Carlos Roberto Simioni, deu início aos trabalhos de investigação da arte da atuação, dos híbridos teatro-dança, teatro-performance, além de pesquisas em palhaçaria, mímesis corpórea, e treinamentos da presença cênica.

Em quatro décadas, o grupo tornou-se conhecido em mais de 30 países e quatro continentes, desenvolvendo parcerias com mestres da cena artística nacional e mundial, como Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret, Dinamarca), Natsu Nakajima e Anzu Furukawa (Japão), Nani e Leris Colombaioni (Itália), Sue Morrison (Canadá), Tadashi Endo (Japão), Kai Bredholt (Odin Teatret, Dinamarca), Norberto Presta (Argentina) e a mineira Grace Passô. Criou mais de 20 espetáculos e mantém 14 em repertório, com os quais atinge públicos diversos de maneiras não-convencionais.

Com sede no Distrito de Barão Geraldo (Campinas/SP), o grupo difunde sua arte e metodologia por meio de oficinas, demonstrações técnicas, intercâmbios de trabalho, projetos itinerantes, trocas culturais, assessorias, simpósios acadêmicos, reflexões teóricas e publicações de livros, que celebram o teatro como a arte do encontro.

Em 2025, ano em que revisita quatro décadas de caminhada democrática, o Lume nos convida a pensar o corpo como território político, a cena como espaço de escuta e a arte como linguagem fundamental para reimaginar o futuro. O Lume transforma cada ação em um convite à presença plena, ao afeto e à imaginação crítica, reafirmando que a arte, quando viva, é uma forma de cuidado com o mundo.

Circuito Liberdade    

O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.


Serviço

 LUME TEATRO CUMPRE TEMPORADA DE “KINTSUGI, 100 MEMÓRIAS” NO CCBB BH

22 de agosto a 15 de setembro de 2025, sexta a segunda – 19h

Sessões com interpretação em Libras, aos sábados

Local: Teatro II do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – BH/MG)

Ingressos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH, a R$30 e R$15 (meia-entrada),

 com desconto de 50% para clientes que realizam o pagamento com cartão Ourocard

Mais informações no site ccbb.com.br/bh

Classificação indicativa: 14 anos | Duração: 120 min | Gênero: autoficção

PROGRAMAÇÃO GRATUITA

23/08, sábado, 15h – Exibição do vídeo-desmontagem “Eu me lembro: Flanando por Kintsugi – 100 memórias”, seguida de conversa com o elenco, com retirada de ingressos pelo site ccbb.com.br/bh e a partir de 1h antes na bilheteria do CCBB BH.

30/08, sábado, 15h – Palestra/conferência “Presença, Corpo e Coletividade”, com Renato Ferracini, vagas limitadas mediante inscrições no link: https://forms.gle/QNPHo885omnpNvqd6

06/09, sábado – Bate-papo “Sobre memórias, processos e singularidades” com elenco, após o espetáculo

Mais informações: (31) 3431 9400

instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh | E-mail: ccbbbh@bb.com.br

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