Espaço cultural em Casa Branca (Brumadinho) lança simultaneamente, sábado, três exposições e uma mostra de vídeos
A Galeria Cabra, situada em Casa Branca, Brumadinho (MG), anuncia a abertura de sua segunda temporada de exposições com uma programação que convida o público a refletir sobre tempo, memória e transformação. Três exposições individuais e uma mostra de vídeos integram a programação, trazendo diferentes perspectivas sobre arte, território e identidade.
EXPOSIÇÃO 1 | TRANSVER O MUNDO
Eduardo Vasconcelos
Através da fotografia e da escultura, Eduardo Vasconcelos propõe um olhar contemplativo e sensível sobre a realidade. Inspirado em movimentos como o surrealismo e na poética de Manoel de Barros, o artista cria imagens e formas que escapam à lógica da velocidade e da imediatez. A exposição convida o espectador a “reolhar” o mundo, questionando a percepção visual e abrindo espaço para a imaginação e o mistério.
EXPOSIÇÃO 2 | CASA BRANCA RE.VISTA
Acervo fotográfico de Susana Leal Santana
A arquiteta e pesquisadora Susana Leal Santana apresenta um registro visual do distrito de Casa Branca, capturado ao longo de décadas. A exposição dialoga com a publicação homônima lançada em 2024 e reflete sobre as mudanças na paisagem e na comunidade local. Com imagens que atravessam o tempo, o projeto destaca a importância da memória na construção das identidades individuais e coletivas.
EXPOSIÇÃO 3 | FLORESCER EM MEIO À LAMA: MEMÓRIAS QUE BROTAM
Instituto Cordilheira e Comunidade Córrego do Feijão
Através de fotografias e depoimentos, esta exposição apresenta narrativas de resistência da comunidade do Córrego do Feijão, duramente afetada pelo rompimento da barragem em Brumadinho. Os registros expostos são um tributo às vítimas e um chamado à justiça, reafirmando o compromisso com a preservação da memória e a luta pela reparação histórica.
MOSTRA DE VÍDEOS | SOBRE VIVÊNCIAS
Curadoria: Thais Mol
Uma trilogia territorial mineira, composta por três vídeos de diferentes artistas, aborda temas como pertencimento, isolamento e os impactos da exploração ambiental. Os filmes apresentados são “Nhá Nhá” (Niura Bellavinha, 2014), “Desmanche” (Luíza Alcântara, 2016-2019) e “Solon” (Clarissa Campolina, 2016), criando um diálogo poético sobre a relação entre território, memória e futuro.
PROGRAMAÇÃO ADICIONAL
- COMES E BEBES – Juju Gastrô
- MÚSICA – DJ Mateus
- FLASH TATTOO – Carol Bella
- IMANTOS – Thais Mol
- PINTURA CORPORAL E ARTESANATO – Eyhnã Xôhã Pataxó e Simirã Xôhã’ihé Pataxó
A temporada de outono da Galeria Cabra reforça seu compromisso com a arte como ferramenta de reflexão e diálogo, oferecendo ao público experiências que conectam história, paisagem e sensibilidades diversas.
SERVIÇO:
- Local: Galeria Cabra
• Endereço: Av. Casa Branca, 400 – Casa Branca, Brumadinho (MG)
• Abertura: 29/03 às 10h
• Período de visitação: 30/03 a 14/06
• Entrada gratuita
CONTATOS:
Fred Paulino (31) 98815-5490
Thaís Mol (31) 98889-6057
Para mais informações e agendamento de visitas, entre em contato pelo e-mail institutocabra@gmail.com ou acesse https://instagram.com/institutocabra.
IMAGENS DE DIVULGAÇÃO – DOWNLOAD:
https://drive.google.com/file/d/1PJS8Q9BMp_2SZwxXBMmUgByvHa0ah8gV/view?usp=sharing
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A PROGRAMAÇÃO DO EVENTO:
EXPOSIÇÃO 1:
TRANSVER O MUNDO
Eduardo Vasconcelos
REOLHAR, DESVER E TRANSVER
Vivemos tempos acelerados, imersos em uma visão imediata e literal da vida. As imagens em alta definição captadas por celulares e compartilhadas instantaneamente nas redes parecem ser capazes de representar, substituir e superar a própria realidade.
Mas o real é relativo e a arte é, com frequência, gesto de resistência. Ela pode escapar das tendências e mirar outras paragens – internas, passadas, sensíveis, obsoletas, surreais. Em um mundo onde tudo se vê, às pressas, às vezes queremos ver menos – contemplar sem explicação e se abrir aos mistérios.
O trabalho de Eduardo Vasconcelos segue essa trilha. Atento ao mundo dos enigmas que nos cercam, sua produção artística segue o caminho da contemplação, da lentidão, do absurdo. Ao invés de imagens e formas “explicáveis”, visões sensíveis e particulares de mundo que deixam dúvidas e perguntas.
A Galeria Cabra dá as boas vindas à exposição Transver o mundo, que apresenta obras que nos convidam a uma imersão de tempo e entrega. Nela, Eduardo segue as pegadas de como pintores impressionistas, abstratos, mas particularmente surrealistas viam o mundo, só que agora via imagem digital, criando “pinturas” estranhas, mas que, não sabemos por quê, nos atraem. Com isso, ele nos incita a escapar das imagens prontas e “reolhar” a realidade, inspirando poesia pelos olhos. As esculturas propõem outra forma de mirar o meio ambiente nativo e uma ressignificação das formas, à tradição de Krajcberg, mas sem intervir nas peças entregues pela natureza. Recria, assim, a realidade e nos convida a apreciar o longo tempo de modelagem da vida em nosso planeta, em uma postura sensível e ecológica de habitar. São trabalhos que instigam interpretações únicas por cada um que os vê.
Se o excesso de imagens do mundo atual nos impede de “desver”, Eduardo Vasconcelos nos convida a “transver” o mundo – tarefa da imaginação, como diria Manoel
de Barros.
Fred Paulino
SOBRE O ARTISTA:
Eduardo Mourão Vasconcelos é escultor e fotógrafo desde a década de 1980, tendo realizado exposições no país e no exterior. É mineiro, de Belo Horizonte, e desde a tenra idade frequenta regularmente as terras da Casa Branca (Brumadinho, MG), e assim, se apaixonou pela vida nos matos e cachoeiras. Em 1992 foi morar no Rio de Janeiro, como psicólogo e cientista político, pesquisador e professor da UFRJ, hoje aposentado, e autor de dezenas de livros e centenas de trabalhos acadêmicos, principalmente sobre saúde mental e luta antimanicomial, mas continuou com sua paixão pela natureza.
Vasconcelos é também um pesquisador e escritor sobre artes, e foi encontrando na obra dos impressionistas, surrealistas e abstratos um caminho inspirador para sua fotografia e escultura. Nessa trajetória, identificou também na poética de Manoel de Barros uma forte expressão de sua alma e também de sua estética, pelo jeito ‘torto’ de Manoel “transver o mundo”, de ter “orgulho do imprestável” e de brincar com o “criançamento das palavras”, antes mesmo da elaboração mental da linguagem e da interpretação das imagens.
EXPOSIÇÃO 2:
CASA BRANCA RE.VISTA
Acervo fotográfico – Susana Leal Santana
A paisagem muda, as histórias permanecem. A exposição Casa Branca Re.vista apresenta o acervo fotográfico de Susana Leal Santana, arquiteta e pesquisadora que, desde que passou a frequentar Casa Branca, ainda nos anos 1980, tem dedicado parte do seu tempo a registrar e contar a história desse território em transformação. Esta exposição dialoga com a publicação lançada pela autora em 2024. As imagens, produzidas por ela e por amigos, capturam momentos que atravessam o tempo, conectando memórias individuais e coletivas em um registro
sensível e detalhado.
O conjunto revela fragmentos da vida em Casa Branca, formando um arquivo visual que não apenas documenta, mas também inspira novas narrativas sobre a ocupação, o pertencimento e as mudanças na comunidade. Cada fotografia resgata camadas de identidade e memória, tornando visíveis os traços de um lugar que se refaz continuamente.
Em tempos de renovação, este registro reafirma a importância de olhar para o passado para compreender o presente. Por meio dessas fotografias, convidamos os visitantes a revisitar Casa Branca, reconhecendo e valorizando a trajetória de um lugar que continua a se reinventar, sem perder suas raízes.
EXPOSIÇÃO 3:
Florescer em meio à lama:
memórias que brotam
Instituto Cordilheira e Comunidade Córrego do Feijão
Em uma comunidade marcada por cicatrizes profundas, florescem histórias de resiliência.
A exposição com testemunhos e imagens que se entrelaçam, pinta um quadro vivo da história do Córrego do Feijão. As vozes dos moradores que seguem habitando o vilarejo ecoam com força, desafiando o esquecimento e a descaracterização do local.
Os objetivos são honrar os que se foram e celebrar as pessoas que continuam pulsando vida.
Por meio de fotografias que revelam a alma da comunidade e vídeos que contam casos de resistência, adentramos em um universo de superação.
Um chamado para ressignificar os danos e perdas irreversíveis causados pelo rompimento da barragem, para reafirmar o compromisso com o território e para convocar para a luta por justiça e pela não repetição dos crimes da mineração.
A memória é preciosa e jamais será enterrada nos rejeitos. Ela é a semente que alimenta a esperança e nos impulsiona a celebrar a vida que persiste em renascer, todos os dias.
MOSTRA DE VÍDEOS:
Sobre Vivências
Nesta pequena mostra de vídeos montamos uma trilogia territorial mineira em que terra, solo, morada, memória e visões de futuro se entrelaçam poeticamente. Estamos presenciando continuamente o ruir de modos de vida, o isolamento de populações tradicionais e a falta de perspectiva de um futuro bom, a partir da violenta imposição exploratória sobre nossos territórios e recursos naturais. E é sobre os efeitos dessa violência que apresentamos os vídeos dessa mostra em que presença, solidão, lembrança e caos nos convidam a refletir sobre nossos territórios íntimos
e coletivos.
Curadoria:
Thais Mol
Vídeos e artistas participantes:
Nhá Nhá, Niura Bellavinha, 2014 (13:19)
Desmanche, Luíza Alcântara, 2016-2019 (07:20)
Solon, Clarissa Campolina, 2016 (16:22)